domingo, 3 de janeiro de 2016

QUE SAUDADE! (VOLUME I)

Estava a organizar e ordenar alguns álbuns de família. Ofício que carrega a gente de saudades, de emoções, de muitas emoções... Dá trabalho? Que nada! É prazeroso. De repente, surpresas mil. E mais surpresas, porque eles registram passagens de nossas vidas, que imaginávamos apagadas de nossas memórias. E que, de chofre, a gente volta ao passado, e se reencontra com momentos que gostaríamos que voltassem. Em mãos, faz pouco, fotos de minhas filhas, Germana e Giovanna, com suas avós, Deolinda e Eulália.


Bate-me imensa saudade. Lembrança de momentos vividos com as duas. Uma, minha mãe. A outra, minha sogra. Delas, sempre tenho grandes passagens e lembranças a recordar. Que me apertam o coração. Para mim, duas Santas. No que pese de estilos de vida diferentes. Minha mãe, mais afirmativa, corajosa e agitada. Minha sogra, mais comedida, passiva e tranquila. Duas Santas, no entanto - repito. Santas pelo carinho e pelo amor que dispensavam a todos quer fossem pobres, ricos, pretos, brancos, letrados ou não, oprimidos e poderosos...

Irreprimivelmente, dedico o maior respeito a todos os meus que se foram. Olho-as. Volto a olhá-los com solenidade e reverência. Que, às vezes, passa-me a lembrança do temor que deles tinha no limiar de minha existência. Nos meus verdes anos de criança

Dos meus ancestrais, só conheci o meu avô Assis. “Coronel Assis”, como o chamavam. Não conheci minha avó, Flora. 

Minha mãe falava muito de sua doçura. De sua religiosidade. De seu apego às Obras Divinas. Foi meu tio Luiz, irmão de minha mãe, quem, em vida, me presenteou com uma pintura, retratando a imagem de meus avós maternos. Há pouco mandei restaurá-la. E está aqui, na minha Galeria.  

Não tenho, no entanto, no meu acervo, nada que me lembre de meus avós paternos. Por quê? Nunca soube. Nunca me disseram. Gostaria tanto de vê-los em pintura para poder restaurar como fiz com a pintura da imagem de meus avós Assis e Flora. E completar minha galeria, que cuido com paixão, orgulho e zelo. 

Sou, incorrigivelmente, adepto dessas fotos do passado. Recente ou distante. Gosto! Sou, nesse ponto, à antiga. Como diria a cronista Fátima Quintas: “Gosto de sentir a consanguinidade dos ancestrais, de modo a cultuá-los com veemência”. E eu os cultuo. Sobretudo quando registram encontros como esses: duas avós que se foram com duas netas que as queriam e amavam muito.

Em minha casa, tenho um espaço só para esses registros. Aqueles que lá adentram me dizem que gostam muito. Cobrem-me de elogios, que espero sinceros.

Cultuo fotos, sobretudo de família. De ascendentes, de descendentes - avós, pais, irmãos, primos, filhos, netos... da consanguinidade. Enfim, de todos. Incluo, de igual modo, aqueles que se juntaram a ela. A essas fotos, que me conferem a sensação de estrar mais próximo de meu Criador, dedico solenes altares e respeitáveis liturgias... E esse estado me anima e me enriquece. Tudo isso me faz bem e me deixa feliz. 

Às vezes, em casa, desço para contemplá-las. E fico a dizer-me: “Ah! Faltam tantas, ainda”. Tantas... Como as de meus avós paternos.