quarta-feira, 20 de abril de 2016

O LIVRO DE AUGUSTO (VOLUME I)

Augusto César, do Jornal “O Columinho”, convidou-me para o lançamento de seu livro “Memórias de Garanhuns”, que aconteceu na quinta-feira, 31 de março passado.  

Confirmei minha presença, mas, infelizmente, com compromissos inadiáveis fora da cidade, não me foi possível comparecer. Avisei-lhe, no entanto. E, depois, lamentei ter perdido a grande festa. Que soube muito boa e representativa, tendo reunido muita gente das Letras da cidade e autoridades locais. 

Ao seu livro, por insistência de Augusto, escrevi algumas linhas sob o título “Depoimento” e, nele, exaltei o monumento literário que acabara de ler, ainda nos seus originais. 

Por ele desfilam Marcílio Reinaux, Lígia Beltrão e Hildeberto Martins - três nomes que engrandecem nossa cidade. E são, por assim dizer, verdadeiros “monstros sagrados das Letras garanhuenses”. Grandes escritores! Excelentes cronistas!

Li, outro dia, uma crônica, assinada por Vanessa Bárbara, sob o título “Queria escrever”, publicada pelo Instituto Moreira Sales. Disse ela de seu desejo de escrever um texto: “Um texto tão bonito que o faça voltar pra casa, meu amor, sob o triste cochilo da lua”. E eu, daqui, tomo a liberdade de dizer: “Volta Lígia. Volta para tua casa, para tua cidade, que ela te receberá de braços abertos. Volta para tua Academia, porque sinto que, aqui, tu serás a imortal dos imortais. De repente, a imorrível, como bem quis ser nosso poeta Ronildo Maia Leite”. Mas... Quero registar, aqui, uma confissão: prefiro, no gênero literário, ler os Marcílio’s, Lígia’s, Carlos’s, Roberto’s, Wagner’s, Ronaldo’s, Hildeberto’s... a ler os Ruben’s, Verríssimo’s, Nelson’s, Millôr’s, Stanislaw’s, Vinicius’s... Porque falam da minha cidade. Da sua beleza. Da sua poesia. Enfim, de seus encantos. E o fazem, apaixonadamente. Porque, daqui, da “Cidade Simôa”, da “Cidade onde o Nordeste Garoa”, de Garanhuns do meu “Aconchego”, no dizer do nosso expoente maior, “O Mestre Dominguinhos”. 

Paixão em prosa, no gênero de crônicas. Crônicas com sabor de poesias. Poesias, que carecem de muito mais que talento. Que carecem de vidas... Vidas vividas. E vividas com muito amor... Na ingenuidade da infância. Da chegada da pré-adolescência e adolescência, aqui, no Planalto da Borborema, também conhecido como “Serra da Borborema”, que vem do sul. Lá, das Alagoas. Passa por aqui, e vai até Santa Cruz, no Rio Grande do Norte, numa extensão, em linha reta, de 400 km. 

Eles, sim, tiveram suas histórias e suas estórias contadas em suas crônicas, inspiradas nessas terras. Terras que querem mais, e sempre mais, até em reverência aos seus antepassados. Que sempre a quiseram.  

“Na minha adolescência, meninos e meninas tinham bicicletas só de marcas importadas... Menino que não tinha bicicleta - como eu - pedia aos amigos uma trisca...”, escreve Marcílio, lapidar e saborosamente, para nosso delírio. 

“As festas de rua, no Natal, e a de São Sebastião, onde os alto-falantes anunciavam músicas oferecidas por alguém... O pastoril, onde eu, empetecada e brilhosa era a Contramestra que cantava enaltecendo o cordão azul...”, escreve Lígia.  

Ou, ainda, já longe de Garanhuns: lá da Europa. Mais precisamente em Portugal, mais ainda, da imortal Coimbra, ela nos brinda com palavras como essas, carregadas de saudosismo, falando do Rio Ceira, que deságua no Rio Mondego: “Lembrava a minha infância e adolescência, com um rio a domar-me ante as travessuras... O Rio que deixei para trás e nunca mais fui visitar...” Chora Lígia. E me faz, também, verter água dos olhos, por me levar a um passado que não volta mais. 

Por fim, Hildeberto. Sou seu leitor, desde aqueles tempos idos. Leitor, discípulo e admirador. Sempre presente em sua casa, aqui, na Avenida Rui Barbosa. Eu, menino, ainda, e já de olho nele para receber um pouco de seus ensinamentos. Observar, mais que um pouco, a sua postura de adolescente sensato, equilibrado, e sem açodamento nas atitudes, até no andar. Dele, li tudo ou quase tudo que escreveu: E o fiz no estilo recomendado por Émile Faguet: “Bem devagar, e, em seguida... bem divagar...”. Li “As Travessuras de Coco Chinês”, “A Pedra do Oratório”... E uma infinidade de editoriais, os quais li, reli e voltei a lê-los, de novo. Pensando no que nos ensinara Flaubert: “Ah! esses homens do século XVII! Como sabiam latim! Como liam devagar!”

 
Hildeberto nos ensina como tratar um amigo de verdade. Como ser-lhe grato: “Rossini, você nos surpreendeu. Viajou fora do combinado... Pegou-nos no impedimento, aquém ou além, não sei dizer bem, da linha da vida... Manda-nos sempre um ‘alô’, enviando também seus artigos, suas crônicas geniais, uma página inteira...” 

Perdi. Perdi a festa de Augusto. Que fez muito mais para o seu querido pai, Lúcio, in memoriam, do que para ele.

Eu parecia que não queria receber a homenagem do amigo Augusto. Na verdade, dela não sabia. Sabia de sua festa. E só. A homenagem, depois soube, seria uma surpresa. E minha falta de percepção perdurou. Que horror! Ele convocou os amigos e foi-me prestá-la, lá, em minha casa, com tantos, num santo domingo. Que é somente meu. Meu, de minha família e de alguns amigos. Onde se joga conversa fora. Coisa que os dias a dia da gente não me deixa fazê-la. 

Obrigado, Augusto! Obrigado amigos, que, como ele, estiveram naquele domingo a me homenagear. Quanta bondade! Sou-lhes grato.