Isso já nos remete ao “Mercado 18 de Agosto”, inspiração de Amílcar da Mota Valença, nas suas andanças pelos Estados Unidos da América, trazida à então província de Garanhuns.
Naquelas eleições (1963) ele se insurgia contra aqueles que se julgavam “donos” da cidade: prefeito, governador, presidente e deputados. Estes, só da cidade, três. De algures, indizíveis. “Vamos para Garanhuns derrotar aquele matuto insurgente”, diziam. Resultado: por ter traduzido os anseios da população “matuta” da cidade, tornou-se o seu prefeito apesar de todo aquele aparato político, que, nas ruas, se portava com arrogância, conquanto se julgava verdadeira “máquina eleitoral”. Imbatível. De impossível enfrentamento. Por isso as ameaças explícitas no sentido de querer machucar, humilhar, subjugar e maltratar os homens e mulheres de bem de Garanhuns. A vitória do povo, no entanto, foi arrasadora. A derrota daqueles “poderosos” da época, acachapante.

Em 15 de Novembro de 1968, a vitória foi mais contundente ainda. Até pelas circunstâncias da época. Os generais e os coronéis não aceitavam o candidato lançado e apoiado por Amílcar da Mota Valença. Mas ele e o povo de Garanhuns o fizeram seu prefeito - Luiz Souto Dourado que era candidato pelo MDB. Portanto, partido de oposição aos governos do estado e da união. Luiz Souto Dourado tinha um grande defeito, diziam: “É que fora Secretário da Justiça do ‘comunista’ Miguel Arraes de Alencar.” Quem sabe se, por isso, os generais e os coronéis não o queriam e não o credenciavam para ser o nosso prefeito.
Em 15 de Novembro de 1972, muito mais pelos seus atos de bravura, de coragem e de independência política do que pela sua gigantesca obra, realizada no seu primeiro mandato, ele, Amílcar da Mota Valença é eleito prefeito de Garanhuns mais uma vez, porque, para ele, como para Mahatma Gandhi, passava em julgado princípios inalienáveis em política e porque, ainda, teria durante toda a sua vida se identificado com os ricos e com os pobres, com os brancos e com os pretos, com os letrados e com os iletrados da sua cidade. Prática que exercitava de forma muito tranquila e espontânea, a ponto de ter o respeito e admiração de comunistas da cidade, adversários seus, que chegaram a considerá-lo como o mais “comunista” dentre os políticos da sua época, por conta de sua efetiva proximidade e ação em defesa das camadas mais carentes de sua gente. E, também, por sua conhecida probidade frente ao erário público.
O trabalho de Amílcar, nesse particular, bem que poderia servir de exemplo àqueles que fazem militância política, sendo, portanto, positivamente, intemporal.
Em 15 de Novembro de 1976 ocorre quase uma repetição do que ocorrera em 1963 e em 1968. Amílcar da Mota Valença teve que repetir os seus gestos do passado e, de novo, com bravura, coragem e independência, contra um sistema organizado e orquestrado, elege como seu sucessor, um amigo, para quem, um dia, dera a palavra: Ivo Tinô do Amaral. Justamente ele que, como Amílcar, enfrentou o episódio histórico de 1963. Com isso, ratifica o seu respeito aos princípios de palavra, da honradez e de honestidade na política.
Para as eleições de 2012, Amílcar da Mota Valença, também esteve ao lado do povo de Garanhuns, dando “não” àqueles que pensaram humilhar, subestimar e subjugar nossa cidade, impondo uma candidatura contra os nossos interesses e tradições.
Esses episódios da vida de Amílcar da Mota Valença o engrandeceram e me orgulham e, tenho certeza, também, a gente garanhuense.
Como minhas filhas - suas netas, quero dizer: “Que Deus o abençoe! Foram 98 anos vividos intensamente.”
A tudo isso, assisti de perto. Lá atrás, como simples colegial. Sequer eleitor, já o disse. Mais adiante, como eleitor. Militante político. E, depois, já como seu genro. Que trazia, como traz ainda, a ideia de que se deve ser, suficientemente, livre para discordar e concordar. A ideia de que política se faz conversando. Respeitando o contraditório. E tendo a felicidade de, um dia, um sonho lá do passado, fruto de muitas lutas e pedidos, ser realizado, como a rodovia que une a sede do Município de Garanhuns ao Distrito de São Pedro. Sonho que acalentou durante toda a sua vida, até porque, lá, viveu. Mas que deixou para a posteridade a tão sonhada rodovia, que não a conheceu, e que leva o seu nome: Rodovia Amílcar da Mota Valença.
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