
Com Pedro convivi muito pouco, ou quase nada. Até porque, ele, de outra geração, de outro ofício. Mas acompanhei, de longe, alguns passos de sua vida, de sua trajetória, do bom médico que foi e do político da época muito difícil da ditadura.
Bom de bola, Pedro jogava no então bairro do Arraial da cidade e, dentre os “peladeiros”, havia Neném, com quem disputava a taça dos melhores da época.
Sim, Neném. Ele que, como Pedro, mudaria de profissão para ser, mais tarde, famoso com sua sanfona: o nosso Mestre Dominguinhos. Que voltaria, mais tarde, depois de percorrer todo este país, ao seu “Aconchego”.
Não me saem da cabeça os seus versos:
“Estou de volta pro meu aconchego
Trazendo na mala bastante saudade
Querendo um sorriso sincero
Um abraço para aliviar meu cansaço
E toda essa minha vontade”
Pedro foi ser médico - e dos bons -, com residência em cirurgia e especializado em cirurgia infantil, tendo feito história na cidade como grande profissional que era.

Pedro Hugo teve breve incursão política em Garanhuns. E, em época difícil, muito difícil à atividade, devido à ditadura, com seus Atos Institucionais e Complementares. E, com estes, seus “Pacotes”. Seus entulhos autoritários, que, reunidos em Decretos-Leis, recrudesciam mais ainda o regime, roubando a esperança de tantos que sonhavam com a volta da democracia ao país, que só viria ocorrer muitos anos depois, em 1985. Cassavam vocações. Matavam vocações. Impediam o surgimento de outras. Inibindo e afastando a juventude do exercício político, do exercício do espírito público.
Foi nessa situação jurídica-eleitoral que o nosso personagem disputou as eleições de prefeito de Garanhuns, ganhando e não levando por não ter conseguido superar o somatório dos votos obtidos pelos candidatos do então PDS.
Imagino que, por isso, Pedro Hugo desistiu de sua passageira incursão política. Mas, quem sabe? Acuado, desiludiu-se, decepcionou-se...
Não era, no entanto, para lhe ter ocorrido isso. Até porque, penso, ele teria sido o grande vitorioso moral naquela eleição. Mas, certamente, sem vocação, tornou-se recluso da sua desilusão, da sua decepção... E tudo por conta dos entulhos, que somente seriam expurgados, definitivamente, da Legislação Eleitoral Brasileira, através da Emenda Constitucional 25, de maio de 1985, que passou a permitir coligações partidárias que suprimiu as famigeradas sublegendas, que extirpou do processo eleitoral o voto vinculado, aberração que obrigava o eleitor a votar, no mesmo partido, de vereador a governador, e vice versa. E o candidato - caso seu partido rejeitasse essa regra, a lutar contra a soma dos votos, de até três candidatos de um mesmo partido adversário.
Penso, hoje, que Pedro Hugo não tinha vocação para esses embates, como certamente, tinham o saudoso Ulisses Guimarães, a nível nacional, e Humberto de Moraes, a nível local. Embates que são perversos, desiguais, difíceis, cruéis, duros... E que continuam sendo ainda em nossos dias. Que dirá naqueles anos de escuridão, quando esses embates aconteciam com regras, previamente estudadas, medidas, elaboradas, dentro dos gabinetes. Longe do Congresso fechado, de recesso forçado. E, sobretudo, humilhado... Tudo de roldão, sem a oitiva de quem quer que seja. Além deles mesmos que pensavam, igualmente. E tudo porque o poder não havia perdoado 1974, quando a maioria esmagadora da população brasileira disse, enfática e eloquentemente: “Basta! O perigo passou!” E numa eleição para renovação de 1/3 do Senado, 16 das 22 cadeiras foram preenchidas pelos que pregavam o “Basta!”. Eram 72,72%, portanto. Representada pela oposição. Pelo então MDB. “Queremos a democracia de volta”, diziam.
Tivesse Pedro Hugo perseverado, marchado em frente, penso que ele teria sido convocado, novamente, para outros embates. Quem sabe em 1988? Ou em 1992? Houve tantas eleições depois da sua. Depois de 1982. E de presságio em presságio - vencendo infortúnios, representados pelos casuísmos do dia, estamos construindo o futuro da pátria que queremos: democrática, igualitária, solidária, fraterna... Para todos.
Descanse em paz, Pedro Hugo. Seu nome ficou na história política de Garanhuns. E como exemplo de dignidade. De lealdade. De coragem... A serviço de Garanhuns e de sua gente.
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