Nesse São João, número mínimo de turistas em nossa cidade. Cidade quase deserta ou vazia. Triste! Muito triste. Horrível! Para a economia de uma cidade que quer ser turística.
A sensação que tenho é que estamos fora dos destinos juninos do nosso estado e dos estados vizinhos. Essa, lamentavelmente, fora a realidade desses festejos em nossa cidade neste ano.
Teimoso, procurei passear pela cidade. Por toda ou quase toda a cidade. No que pese a onda de assaltos que dizem estar acontecendo em seus bairros. Mas fui. Queria conferir para poder escrever estas linhas que jamais imaginava com igual pesar no coração. Não acreditava no que me diziam. Nem fogueiras eu vi no meu passeio... E se as vi foram em número tão desprezível a que custo acreditar e, me acanho de registrar.
E assim tem sido desde anos anteriores. A cada ano, os festejos juninos da nossa cidade morrem mais um pouco. Mais um pouquinho morrem as tradições juninas na Terra da Garoa. Triste! Muito triste.
Tudo bem! Tivemos, ali, em Caruaru e em Campina Grande, excelentes Festas de São João. Mais perto da nossa cidade, tivemos, em Arcoverde, um ótimo São João. E, em Bom Conselho, um bom São João. Ah! Ia esquecendo Caetés, que soube, fizera um razoável festejo junino.
No meio a essas reflexões, eis que chega um amigo e me pergunta como teria sido o nosso São João, ao que respondi: “Amigo, não me pergunte o que não posso responder. Sou claro a você: a vergonha não me deixa fazê-lo.”
Meio atônito, digo: “Como?” O amigo pergunta: “É possível fazermos um São João em nossa cidade?” Respondo: “Evidente, amigo, e digo, sem problema. E mais: Voltando com as nossas quadrilhas; voltando com nossos shows de finais de semana. E de vésperas e dias de São João e São Pedro, e, de repente, ainda, de Santo Antônio. Este, padroeiro da nossa cidade. E ainda: incentivando a sociedade civil organizada a fazer os seus festejos alusivos ao período, como esse ano mesmo fez a Rede Feminina de Combate ao Câncer, com absoluto sucesso.
E, ainda, disse ao amigo: “Enfim, compromisso, disposição e coragem, essa a receita ao resgate desses festejos de tradição em Garanhuns, cidade que sempre se fez presente, saudando essas datas na terra do grande Mestre Dominguinhos, que por aqui iniciou a sua jornada musical.”
Senti que o amigo queria mais conversa. Pedi, no entanto, para deixar-me sozinho. Em paz. Que ele entendesse a minha tristeza, que se confunde com a tristeza de tantos com quem falei. Que, enfim, quero curtir essa tristeza só, e tratar, com meus botões, de outra tristeza, que carrego comigo. Enfim, quero ficar sozinho para tentar me reanimar, pelo menos um pouco. Disse-lhe, por derradeiro: “É assim que faço, quando estou triste. Recolho-me. Espero que você entenda.”
Passei na casa de outro amigo, torcendo que ele não me viesse com mais perguntas que eu não pudera responder.
Na verdade, antes, liguei para ele, e perguntei: “Posso ir, aí, levar a você meu abraço de São João?” Ele foi direto comigo. “Se avexe Givaldo! Aqui, está ótimo! Muita comida e animação”. E repetiu: “Se avexe!”
Saí correndo, ou, como disse esse meu amigo: “avexado”. E lá chegando, com Emília, bate-me outra tristeza. É que não sei dançar. E todos, lá, no xote, no forró, no baião, no xaxado... E eu e Emília só assistindo a tantos e a tantas, amigos e amigas, dançarem todo o tempo. E, nós, a assistirmos e a assistirmos... E só. E haja pamonha, canjica, milho verde à beça.
De repente, aguça-se em mim a tristeza por não saber dançar. No que pese à fidalguia e efusão de todos e de todas com nossas presenças, volta-me a infeliz tristeza. Nunca dancei músicas juninas. Na verdade, quaisquer outras, não obstante, minhas tentativas de, um dia, querer dançar as músicas dos Beatles e de Michael Jackson. Resignei-me só às tentativas, já que não levava nenhum jeito.
Disse aos meus botões: “Como eu, na terra do Mestre, sim, do Mestre Dominguinhos, não sei dançar suas músicas? Nem as deles, nem as do Rei, Gonzagão. Nem as de ninguém?”. De Gonzagão, algumas que meus pais gostavam muito: “Mandacaru quando fulora na seca / É o siná que a chuva chega / no sertão / Toda a menina que enjoa / Da boneca / É siná que o amor / Já chegou no coração / Meia comprida / Não quer mais sapato baixo / Vestido bem cintado / Não quer mais vestir de mão/ Ela só quer / Só pensa em namorar / Ela só quer / Só pensa em namorar”... E mais: “Respeita Januário”: “Quando eu voltei lá no sertão / Eu quis mangar de Januário / Com meu fole prateado / Só de baixo, cento e vinte, botão preto bem / juntinho / Como nego empareado / Mas antes de fazer bonito de passagem por / Granito / Foram logo me dizendo / De Taboca à Rancharia, de Salgueiro à / Bodocó, Januário é o maior! / E foi aí que me falou meio zangado o véi / Jacó / Luiz respeita Januário”...
E mais tantas e tantas. Verdadeiros clássicos da nossa MPB. Letras imorredouras, que vêm aos nossos ouvidos no dia a dia. Sobretudo nesses tempos de São João.
De Dominguinhos, “De volta pro aconchego”: “Estou de volta pro meu aconchego / Trazendo na mala bastante saudade / Querendo um sorriso sincero / Um abraço para aliviar meu cansaço / E toda essa minha vontade”... E mais: “Nem se despediu de mim”: “Nem se despediu de mim / Nem se despediu de mim / Já chegou contando as horas / Bebeu água e foi-se embora / Nem se despediu de mim”...
Logo eu, que sempre estimulei e estimulo a nossa cultura? Cultura musical. Cultura em todas as suas linguagens.
Perguntei a mim mesmo para depois dizer-me: “Será possível? Vou aprender a dançar. Basta! Basta de tristeza. Na próxima temporada de São João terei que estar pronto para o xote, o forró, o baião, o xaxado... E lá vem fumaça!”
Compenetrado, ouvindo as músicas, e atento à beleza de suas letras, alguém me perguntou: “Givaldo, qual delas você prefere?”. Todas! Gosto do triângulo, da zabumba e da sanfona, do xote. Também da sanfona, do agogô e do triângulo, do baião. Enfim, do pífano, da zabumba, do triângulo e da sanfona, do xaxado. Todas dizem alto de nossa cultura nordestina.
Foi um São João diferente, o meu. Fui pra casa, depois de ouvir tantas. Fui dormir. Sonhar com o rei do cangaço e seus xaxados. Sonhar com Lampião, Maria Bonita e seus cabras. E deles ficar lembrando todo esse dia de São João.
Dia seguinte, acordei, e disse a mim mesmo: “Vou brigar pelo São João de Garanhuns. Afinal, por que só naquelas cidades e, aqui, nada? Não! Vou brigar”. Liguei para um amigo. “Quero falar com você. E adianto que é sobre o nosso São João”. Ele me fulmina: “Você está ficando louco, Givaldo. E nós tivemos São João em Garanhuns? Fui para Caruaru. E, lá, foi uma beleza”. “Sei disso!” - respondi. “Mas vamos fazer o nosso.” “Olha, Givaldo, também acho. Mas dizem que não fazem o São João de Garanhuns por conta do FIG”. Mas, que tem o FIG com o São João? FIG é FIG. São João é São João. Depois, quem faz o FIG é o Estado de Pernambuco. O São João seria a cidade de Garanhuns.