segunda-feira, 19 de junho de 2017

BRISA NÃO, BANDEIRA (VOLUME I)

Acordei todo moído... Penso que foi o uísque a mais que tomei, ontem, com pessoas amigas. Todos muito felizes, como em uma lídima confraria.

Para quem não sabe, eu não tenho o hábito da bebida. Um uisquinho a mais, derruba-me.

Depois, amanhecera chovendo muito, e fazendo muito frio na cidade. 

Lá fora, passei o olho. A névoa tomara conta de tudo. Fechara o tempo. Não se via nada à distância de apenas alguns metros. Tudo cinzento. Mas, muito, muito bonito.

Pensei: essa é a Garanhuns que faltava à cidade. A que se fora, há anos, mas que esse ano promete voltar. Quem sabe? A saudade apertara. E tomara que volte para ficar. Afinal, Garanhuns sem Garanhuns não é Garanhuns.

“Saudade, Givaldo? E frio tem saudade para poder voltar?” “Tem! E tanto tem que voltou. O frio estava com saudade de seu aconchego, Garanhuns. E voltou. Para matar sua saudade. E para deixar Garanhuns feliz. Muito feliz! Portanto, tem.

E ainda estamos em meados de junho. Como será julho? Como? Como será agosto? Como?”

Nas ruas e nas avenidas da cidade, conferi, outro dia, homens e mulheres; moças e rapazes, daqui, felizes da vida pela volta da atmosfera do passado, embora próximo, desses meses de inverno. E, também, porque, de seus baús, desentranharam as roupas grossas de lãs caras, conquanto de finas marcas, todos e todas no aguardo das épocas frias da cidade. Que precisava voltar a ser mais Garanhuns. Sim, para que todos possam... Todos! “desembauzar” seus ricos casacos e vestimentas outras, que só têm serventia nessas épocas do ano. No feliz e fino neologismo de Wagner Marques - “desembauzar”. Que lindo! Tudo conferindo uma atmosfera europeia à cidade.

Em fragmentos de "Brisa" do grande Manoel Bandeira, que estava com a cabeça, pensando mais em Recife, João Pessoa, Natal... Maceió, Aracaju, Salvador... Ele sentencia - para mim, a destempo, porque do Recife não deveria ter saído: “Vamos viver no Nordeste, Anarina / No Nordeste faz calor também/ Mas lá tem brisa/ Vamos viver de brisa, Anarina.”

Brisa não basta, Bandeira. Ela vem quente ou morna, a depender do tempo. Tem que ser frio. Aquele friozinho que você ia buscar longe. Lá, pela Europa.

Fossem outros os tempos, Bandeira, e estivesse você ainda conosco, estaria a convidá-lo a vir passar esse inverno de 2017 na Suíça Brasileira, para vê-lo contente. Mais contente que nos seus tempos de Petrópolis. Sim, de Petrópolis, e de sua vida, como você conta: consciente. 

Ah! Bandeira! Garanhuns estaria a te convidar a provar desse friozinho gostoso da terra “Onde o Nordeste Garoa.” E, você, Bandeira, dias, aqui, quem sabe não fizesse versos mais tocantes para os apaixonados dessa cidade que os versos do poeta da nossa terrinha: “O céu existe entre Sete Colinas / Garanhuns é de lá.” E, por cima, aplaudindo, alegre, Alain (Émile-Auguste Chartier), que dissera, a propósito, sobre o frio: “Só há uma maneira de resistir ao frio, é de ficar contente com ele”.  

Pena, Bandeira, você não estar mais por aqui, para a gente, juntos, provar da maravilha desse friozinho que toma conta, aos poucos, de Garanhuns, neste inverno. Para a gente, juntos, contemplar essa garoazinha que cobre a nossa cidade, neste período. De pouquinho...  Parecendo até com juros altos e correção monetária das épocas de inflação alta em nosso país. Pena! Muita pena!

Nenhum comentário:

Postar um comentário