terça-feira, 28 de março de 2017

TEMOR E INSEGURANÇA (VOLUME I)

Temo! Temo muito pelo nosso país. E esse temor me remete aos versos de Camões: “Que nos perigos grandes o temor / É maior vinte vezes que o perigo.” 

Tomara! E que seja sempre assim. Porque assim já ocorrera tantas vezes em nosso país. Mais temor que, propriamente, perigo. Perigos que passam. Perigos que se esvaem. Como tantos no passado. Passado recente. Passado remoto. 

E não me queiram pechar de estrabismo... Porque a história do nosso país é rica em saídas para crises. Minha resposta a estas está na ponta da língua: sou patriota. Acredito no meu país. E sou homem de muita fé. Sem embargo de também temer. Mas encorajado pelos desfechos das crises do passado.    

Pobre país... Tão rico e tão pobre. Rico e pobre a um só tempo. Pobre de homens públicos. Sérios. Probos. Republicanos. Vocacionados à vida pública. Vida pública na acepção da palavra: servir a todos. Essa a missão da vida pública. 


País rico e pobre. Rico em beleza. Rico em território. Rico em biodiversidade. Rico em potencialidade. Rico por sua gente boa. Contudo, pobre por seus homens públicos. 

Penso que nunca vivemos um momento tão difícil. Desde Dom João VI, em 1817, com a “Revolução Republicana”. Desde Dom Pedro I, em 1831, com sua abdicação e seu retorno à Europa. Desde Dom Pedro II, em 1889, com o “Golpe de Deodoro” e sua humilhante e injusta expulsão do Brasil. Desde Vargas, em 1930, com a chamada “Revolução de 30”. Ainda desde Vargas, em 1937, com a implantação do “Estado Novo”. Novamente, desde Vargas, em 1952, com seu suicídio. Desde Jânio, em 1961, com sua renúncia. Desde Goulart, em 1964, com o Golpe Militar. Desde Collor, em 1992, com sua deposição. Desde Dilma, em 2016, com seu afastamento e posterior deposição, para ficarmos só nesses episódios que causaram temor e insegurança à nação. Mas que a eles sobrevivemos.  



Estamos atônitos... Com aguda sensação de acefalia... Sem sabermos, a rigor, para onde caminhamos. Para onde vamos. Sem sabermos que destino nos espera. 

Pobre da Nação Brasileira. Nunca a vi tão triste... Acéfala ou quase acéfala... como em nossos dias. Não! Nunca! Desde menino, pré-adolescente, adolescente, e, hoje, maduro. 

Não! Nunca! Não! Nunca a vi. Nem nunca li nos livros que contam a nossa história.

Saída desejamos, e a queremos para logo. Porque a gente brasileira não pode mais suportar essa situação. O país parado ou quase parado. E a nação sofrendo, sangrando e envergonhada, sendo alimentada em seus dias a dia, só, e tão só, por notícias ruins, ou, quando não, péssimas! E, com efeito, tristes, muito tristes, vergonhosas, decepcionantes... até asquerosas. 

Estou decepcionado e triste, assim como toda a nação brasileira. Em nossos dias, só escândalos e mais escândalos. Roubalheiras e mais roubalheiras. Verdadeiras endemias, sem limites. Só!

No meu entendimento, só há uma saída para esse pesadelo em que vivemos: a punição exemplar desses irresponsáveis e criminosos.  Extirpando-os da vida pública porque, para ela, eles não servem. E, certamente, nunca serviram.  

Os números dos assaltos aos cofres públicos são deveras estratosféricos. Inimagináveis. Muito além, anos-luz, dos limites de nossa imaginação. 

A falta de honestidade se implantou em nosso país, justamente por aqueles que podiam e deviam dar o exemplo, enquanto nossos mandatários.

Hoje, já não se sabe que político é honesto. A gente quer apostar em um ou outro e, de repente, ele aparece nos noticiários. E pior: no final das contas, quem vai pagar a conta é a Nação Brasileira.

Ah! Se a Nação Brasileira tivesse em mente as palavras de William Henley, e delas fizesse prática: “O tempo passa / e ainda assim / sem medo em mim / nada me assombra / Nem o vão tão fino / Nem o mau decreto que me empalma / Sou o senhor do meu destino / Sou o capitão de minha alma.” 

Penso que seria por aí que poderíamos ser outra nação, respeitada por aqueles que desejam ser os nossos timoneiros do futuro. Futuro que estimo próximo.  

domingo, 26 de março de 2017

NOSSO CENTRO, NOSSO TEATRO (VOLUME I)

Essa semana, um amigo me procurou. Começou perguntando: “Você sabe como anda o Centro Cultural?” Disse-lhe que “... faz algum tempo que não vou por lá, mas que estimo que vá bem, por se tratar do maior monumento da cidade, e de um valor histórico imenso.” “Ah! Givaldo! Como você está enganado...” E passou a me apresentar farto material - reportagens e inúmeras fotos - dando conta da situação do nosso Centro Cultural e Teatro Municipal. Confesso que fiquei estarrecido com o que vi e li. Aí, paciência, minhas decepção e tristeza... a ser verdade o que vi e ouvi desse amigo.

Disse-lhe: “Isso não é possível. É muito para mim. Que já vivo com dores pelas decepções e tristezas pelo que ocorre em nosso país. Agora, você me traz mais essa do nosso Centro Cultural e Teatro Municipal. Você sabe que aqueles monumentos são e sempre serão a menina de meus olhos, e de tantas pessoas da nossa cidade, que a conhecem e que a defendem.

Desde minha infância e pré-adolescência, você sabe, custaram-nos muito as travessuras que fazíamos por lá. Geraldo Paixão que o diga. Chegou a perder uma de suas pernas nos trilhos do trem, na chegada deste à Estação. E esses aportes eram razão de festejos da gente de Garanhuns e região: homens, mulheres e crianças como nós. 

Agora, posso assegurar-lhe: no pouco tempo em que passei como Secretário de Cultura da Cidade, a Estação vivia em estado de nova, em permanente manutenção. Os artistas que o digam. E penso que eles me fariam justiça.”

Conosco, o Centro Cultural, a Estação, abria nos três expedientes: pela manhã, à tarde e à noite. Edmar cuidava dele. E dele tinha muito ciúme. Talvez mais do que de sua própria casa. “Vamos receber o turista como ele merece, Givaldo. Principescamente, até em homenagem à Princesa Isabel e à vaidade de Garanhuns” - dizia-me sempre. 




Cansei de flagrar Edmar, de mangueira na mão, ajudando a lavar as escadarias de acesso ao seu interior. Confesso: tenho saudade dele. Grande amigo! Ajudou-nos muito na gestão da Cultura de Garanhuns.

Instalamos a Secretaria de Cultura no interior daquele monumento, e o fizemos com a ideia fixa e a determinação de adequar as suas instalações às exigências de hoje, sobretudo no que diz respeito ao seu Teatro. Mas sabíamos que a ideia só poderia avançar se contássemos com a assistência de especialistas do Ministério da Cultura. E foi o que fizemos. Ficamos a pedir àquele Ministério a presença de especialistas em Garanhuns, o que ocorreu com a vinda do arquiteto Robson Jorge Gonçalves à Garanhuns para conhecer e emitir laudo sobre o nosso Centro Cultural Alfredo Leite Cavalcanti e o nosso Teatro Luiz Souto Dourado. A partir daí... e só a partir daí... e estudado e discutido o laudo, daríamos início às obras de atualização desses patrimônios.

Ainda hoje, tenho em meu poder cópia do laudo sobre o nosso Centro e o nosso Teatro. Que aponta todas as suas necessidades. Já, na época, o laudo sugeria providências urgentes por parte da Secretaria. O laudo data de 06 de maio de 2008.

Estudamos, apresentamos e discutimos a peça, com muitos, na época. Que ficaram admirados com a iniciativa. E impressionados com as deficiências de nossos Centro e Teatro. Confesso que não foi fácil chegarmos, pelo menos, até aí. Devemos-lhe a um trabalho, da minha equipe, de muita perseverança e persistência junto ao Ministério da Cultura.

Marcos Freitas, teatrólogo, que faz falta à nossa cidade, acompanhava nossa luta de perto. E estimulava os que faziam a Secretaria, na época.

Fiquei muito triste com o material que o amigo trouxe às minhas mãos nessa última semana. Aliás, mais triste do que já estava. Muito triste! Contudo, com a esperança viva, que Deus me deu. E, essa conserva.

O Centro Cultural e o Teatro Municipal não merecem a situação em que estão mergulhados, quando não pela centenária Estação Ferroviária de nossa cidade, que já seria motivo de cuidado e zelo, pelo menos, sim, pelo menos, pelas homenagens que prestam a Alfredo Leite Cavalcanti e Luiz Souto Dourado, dois ícones de Garanhuns, que fizeram muito por nossa cultura.



A nossa Estação Ferroviária vem do Império. Dos tempos de Dom Pedro II e da Princesa Isabel. E foi inaugurada ao tempo de sua regência, com a presença de seu esposo, o Conde d'Eu, em Garanhuns. Todos sabem!

Cuidemos, portanto, desses monumentos. Eles fazem parte da nossa história, que tem que ser preservada.

segunda-feira, 20 de março de 2017

MÉRITO POLÍTICO (VOLUME I)


Às vezes, penso: “tenho saudade desta tribuna”. Aqui, estive durante quatro anos, com tantos. Daqui, vejo ainda alguns: Audálio Ramos Machado Filho, Zaqueu Naum Lins e Daniel da Silva. Mas, daqui, vem-me, também, a lembrança de João Inocêncio Filho, Aldemiro de Medeiros Aquino, Edson Rodrigues Pereira, Gedécio Barros de Almeida, José Carlos Santos, José Carlos Rocha Santos, José Augusto Moura Acioli... 

Como foram bons aqueles tempos, que não voltam mais. Daqui, desta Casa, procurávamos cada um ao seu estilo, lutar pelos sonhos da cidade e de seus cidadãos. E penso, hoje, que valeu a pena ter passado por esta Casa. 

Esta Casa sempre foi muito generosa comigo. Por duas vezes, presta-me uma homenagem. A primeira, data de 31 de maio de 1989. Eu, recolhido em minha residência, de repente recebo a visita de alguns amigos diletos, vereadores de minha cidade, à época. E a memória me traz os nomes de Paulo Francisco Gomes, Armando Domingos de Melo, Audálio Ramos Machado, Antônio Ferreira Duarte, José Ataíde Acioli Filho, Joaci Laurindo de Souza... Foram me comunicar que a Câmara Municipal de Garanhuns havia aprovado um “Projeto de Resolução”, que me conferia o honroso título de “Cidadão de Garanhuns”. 

Disse, na ocasião, e relembro hoje: “Estou surpreso”. É que, de muito, não me achava de outra cidade, já que tudo em minha vida ocorrera, aqui, nas terras de Simôa. 

Com efeito, ainda nos braços de minha mãe, chegara à Garanhuns, da cidade vizinha de Correntes para, aqui, residir até os dias de hoje. Com efeito, fui batizado na Igreja de São Sebastião. Lá, na Boa Vista, pertinho de onde morávamos, na Praça Dom Pedro II. Com efeito, minhas primeiras letras conheci na Escola de Dona Dulcina Galvão, ali, na Avenida Santo Antônio, hoje, “Shopping Center Brasil”. Com efeito, fiz o então curso primário na Escola de Dona Geraldina Miranda. Ali, na Rua Doutor José Mariano, antiga Rua do Recife. Por derradeiro, os cursos ginasial e clássico, cursei-os no Colégio Diocesano, ali, na lendária Praça da Bandeira. 

Agora, mais uma homenagem esta Casa me presta: “Mérito Político”. Título muito enriquecedor. Sobejamente enriquecedor, sobretudo neste momento em que vivemos em nosso país quando, perplexos, estarrecidos e desencantados, parecemos desejosos que nos tenham como amantes de qualquer outra atividade, que não seja a atividade política. Atividade, para mim, a mais nobre, a mais sagrada - se assim posso dizer. Se seu exercício se reveste da plenitude de sua essência. Se seus amantes merecessem a estima, o respeito e a admiração dos seus seguidores e da sociedade que representam. Se seus eleitores “... corressem para eles do que eles para seus eleitores”, nas palavras de Barbosa Lima Sobrinho. 

Ah! Que bom seria se esse fosse o corolário do que, hoje, vivenciamos para sairmos, todos, desse estado em que nos encontramos. Sim, porque este é muito ruim para todos nós. Sobretudo e, principalmente, pela iminência da desconstrução da nossa democracia. Da nossa jovem democracia. Que ainda a construímos, com muita luta, com muito esforço, com muito sacrifício. Inclusive, de vidas de inúmeros compatriotas. 

O político precisa ter equilíbrio emocional para enfrentar os seus dias a dia. Ele tem que ter a consciência de que, para o exercício de suas funções, precisa estar muito mais para um bom magistrado, sempre à procura do equilíbrio e da justiça, na busca permanente da felicidade e da satisfação da sua comuna. Ele tem que ter humildade. Esta, carregada da certeza de que, pelo menos em um particular, cada ser humano é melhor... Sim, é melhor do que o outro. 

O político “não é nenhum iluminado. Ele é uma pessoa comum, igual a todas as outras, com virtudes e defeitos”, disse-nos, certa vez, um Companheiro de Leonismo, Divaldo Suruagy, em uma de suas memoráveis e maravilhosas crônicas. E arrematava: “... importante é que seja honesto, trabalhador, capaz, paciente, prestativo, atencioso, e, principalmente, que tenha espírito público, isto é, coloque os interesses da coletividade acima das solicitações pessoais.” 

A atividade política exige, como nenhuma outra, muita vocação. Vocação, que eu diria, sacerdotal. 

Algumas pessoas chegam até a conquistar mandatos eletivos. E exercem com inteligência as suas funções. Mas, na natureza dessas pessoas, não está intrínseca a natureza do político. Este, como referido, é dotado de atributos que lhe marcam: tolerância, paciência, atenção... Atributos que são excludentes, na sua falta, à atividade. Nela, na natureza do político, reside a diferença, a grande diferença, do simples mandatário, que, por dever, cumpre as tarefas que lhe impuseram, por obrigação, para o político, que as cumpre, mas com paixão, por vocação. Ou, como diria Marco Maciel “como uma ação missionária”. Aquele, simplesmente, como um peso em sua vida, uma tarefa a mais de seu dia a dia, correndo para entregar a obra, que lhe fora demandada ou imposta à execução, todavia, sem o menor entusiasmo à sua realização. Este, ao contrário, com satisfação em seu dia a dia. 

Confesso que fiquei dias a pensar sobre essa segunda surpresa que me faz esta Casa. Aqui e agora. Surpresa, na expressão da palavra. Daí ter-me indagado do porquê da concessão desse honroso e cobiçado título à minha pessoa. 

E eu me dizia nas minhas horas de profundo pensar: mandatário não sou. Certo que fui lá atrás. Mas por pouco tempo - um único mandato. Se bem que a este tenha dedicado todo meu entusiasmo à minha cidade. Se bem que a este tenha prestado, com todas as minhas forças, a minha contribuição à minha cidade. E, delas, tenha levado à ciência da sociedade, de forma sistemática. Sem interrupções. Através de Boletins de meu Gabinete, alcunhados de “Ação Parlamentar”. 

Mas... penso que esta Casa se fixou, para a tomada de tão relevante decisão, muito mais no cidadão Givaldo, a partir de sua inserção na nossa sociedade. Muito mais no cidadão Givaldo, a partir de sua intenção com as comunas de nossa cidade. Muito mais por sua dedicação e, até, intimidade com nossa cidade, presentes, sempre comigo, os atributos a que me referi, e essenciais à definição do homem político e, portanto, eventualmente, merecedor da honrosa e simbólica Comenda, que acabo de receber. 

Dentro desses pressupostos, desse raciocínio, penso que teria, certamente, decidido esta Casa. Não enxergo outra razão que a levasse a assim decidir. E, ademais, sabendo da nobre missão dos vereadores de minha cidade, fiquei a imaginar as horas de debates à tomada dessa grande decisão. 

Sinto que as minhas missões em defesa de minha cidade e com elas o meu apego à sua população devem crescer. E muito! E tudo isso vai me exigir um maior esforço, até para o entusiástico louvor da atenta sociedade garanhuense sobre as decisões, tomadas por esta Casa. 

De minha parte, prometo: zelarei e redobrarei meus esforços no sentido de continuar merecedor da confiança de cada um de vocês, que representam a população de Garanhuns. 

Recebo, portanto, esta Comenda que leva o nome de um dos mais dedicados vereadores da história desta Casa, a quem conheci - Osvaldo Ferreira da Silva - que aqui esteve durante três mandatos, e que me anima a realçar, aqui e agora, o seu exemplo de mandatário com o tempero de grande político. 

Isso posto e glorificado, daqui parto para o meu aconchego. E, de lá da minha alcova, vou agradecer a Deus - como, de resto, já o tenho feito - por me ter conduzido até aqui, sem nunca, em momento algum da minha vida, ter atropelado quem quer que seja ou, pelo menos, ter agido com incorreção e/ou indisposição com quaisquer amigos e amigas, que se ombrearam comigo em caminhadas pela vida afora. Donde me confere a certeza de que, na vida, só construí pontes. Nunca muros. Na vida, só construí amizades. Na vida, não conheci nem sei do sentido de inimizades. E, aquelas, com doses fortes de honestidade, franqueza, presteza... E muita lealdade, graças ao bom Deus. 

Mas, entrementes, esta Casa ainda houve de prestar outra homenagem a outro membro de minha família. Esta, a meu irmão, que, como eu, também foi vereador em nossa cidade, junto a homens que fizeram história em Garanhuns - Aluísio Souto Pinto, Amílcar da Mota Valença, Antônio Sarmento de Pontes, Elias da Silva Barros, João Bezerra Sobrinho, José Augusto Pinto, José Cardoso da Silva, Luiz Pereira Junior, Pedro de Souza Lima, Raimundo Atanásio de Moraes, Petrônio Fernandes da Silva e Uzzae Canuto. 

E, daqui, eu me refiro ao espaço dos ex-vereadores de Garanhuns, que leva seu nome: Geraldo de Freitas Calado, numa iniciativa do Vereador Gerson José de Carvalho Souza Filho, referendada pela unanimidade deste Augusto Plenário. 

De Geraldo, meu irmão, guardo suas palavras: “Teu dever é lutar pelo direito, mas no dia em que encontrares o direito em conflito com a justiça, não hesites em lutar pela justiça.” 

Por fim, quero agradecer a todos pela homenagem que me prestam, neste dia. A todos os representantes da gente boa de Garanhuns e, de forma muito especial, ao Vereador Daniel, pela iniciativa que terminou contando com o apoio e os aplausos desta Casa. 

Certamente, vocês marcam minha vida. A minha e de meus familiares - minha esposa, Emília, meus filhos e meus netos. E a todos os meus das famílias - Calado, Freitas e Valença, a todos meus amigos e amigas da nossa cidade. 

Sinto, por fim, neste instante, ecoarem nos meus ouvidos os versos de Cecília Meireles: “Basta-me um pequeno gesto / Feito de longe e de leve / Para que venhas comigo / E eu para sempre te leve...” 

O gesto de vocês, no entanto, foi grande. Enorme! Gigante! E dele jamais esquecerei.

quarta-feira, 15 de março de 2017

JAZZ! QUE SAUDADE! (VOLUME I)

“Que saudade! Que saudade!”, escrevi em 2015. Porque sentia mesmo. Porque ouvira mesmo. De tantos. E de tantas. Daqui e alhures. Saudade do “Garanhuns Jazz Festival”. Que chegara ao seu último dia.

Parecia que eu, que todos os milhares de apreciadores do Jazz e do Blues estavam se despedindo deles, já que, em 2016, não contamos mais com o nosso “Garanhuns Jazz Festival”, que se consolidava, que se sedimentava, que orgulhava a todos que enchiam seus pulmões para dizer: “Garanhuns, dentre tantos codinomes, é conhecida como a ‘Cidade das Flores’, a ‘Cidade onde o Nordeste Garoa’... E, a partir de 2008, com o Jazz e o Blues, também como a ‘Cidade dos Festivais’.”

É, foi uma pena. Está sendo uma pena, o fim do Festival do Jazz e do Blues.  Perdermos esse diferencial, que conferia charme e glamour ao nosso Tríduo de Momo. Diferencial que não tínhamos, mas que passamos a ter para a alegria maior da cidade, sem embargo das marchinhas e dos frevos dos carnavais. E para o entusiasmo de milhares de amantes do Jazz e do Blues, que aportavam em Garanhuns, nos dias de Carnaval. Estes, hoje, concentrados em Recife e Olinda, com pequenos respingos em algumas outras cidades do interior de nosso estado. E eles acorriam para nossa cidade, trazendo a ilusão de que se dirigiam para Nova Orleans, Chicago ou Nova York, e o sonho de um encontro com ícones jazzistas americanos e brasileiros como: Miles Davis, Louis Armstrong, Ella Fitzgerald, John Coltrane, Billie Holiday e tantos..., dos EUA, e como André Mehmari, Vinicius Dorin, Babi Assad, Romero Lubambo e tantos, do Brasil.

Para se ter uma ideia, em 2008, primeiro ano do “Garanhuns Jazz Festival”,  a ocupação da hotelaria na cidade, com o Jazz e o Blues, chegou à marca de 51,00% contra 24,09% , em 2005; 24,04% em 2006 e 42,00% em 2007, por conta dos retiros das Igrejas Evangélicas na cidade. Chegamos a alcançar, no ano de 2.011, 91% de ocupação, com declínio em 2015, para 69,00%, mesmo assim considerada uma boa marca, na classificação da hotelaria, que vai de taxas péssimas a excelentes, passando por ruins, razoáveis, boas e ótimas. São indicadores, portanto, que não poderiam ser deixados de lado na hora de uma tomada de decisão sobre o avanço ou não do Jazz e do Blues em nossa cidade.

Aqui, impõem-se as perguntas: A1. Ultimaram as mínimas providências para que o Jazz e o Blues não fossem para outra cidade, já que, aqui, com VIII Edições sucessivas, e de sucesso - 2008 a 2015? A2. Ouviu-se o trade turístico da cidade sobre o assunto? Ouviu-se o seu comércio? Ouviram-se as suas associações de serviços de táxi e de moto táxi? Ouviu-se o pequeno comércio ambulante? Ouviu-se ....  Enfim, auscultou-se a sociedade civil organizada da cidade sobre o Jazz e o Blues?

Temos que reagir! Unir forças. Iniciativa pública e iniciativa privada. Enfim, todos! Para podermos melhor “vender” nossa cidade. “Atrair” para ela os reais de fora para sua economia. E, deles, muito precisamos. 

Os turistas na cidade impactam todos os seus segmentos. Isso é aqui e em todo o mundo. Do flanelinha ao  empresário - são 52 segmentos da economia. É só conversarmos com o menino que toma conta do carro do turista. Com a menina que vende a sua pamonha ou a sua pipoca. Com a senhora que vende o seu milho cozido ou assado. Com o rapaz do táxi e da moto táxi. Com as pessoas dos restaurantes, das lojas comerciais, dos bares... Com os desempregados que, nos Festivais da cidade, têm assegurado o seu emprego, embora temporário. Enfim, com dezenas de pessoas. De segmentos. Que preparam os seus produtos. E que os vendem, e que são os responsáveis maiores pelo nosso desenvolvimento econômico, que pretendem participar dele com mais ousadia, com mais presença, com mais permanência, já com um programa turístico de sua cidade nas mãos. 

Será que já paramos para pensar quanto um turista deixa na cidade, da forma a mais horizontal possível, ao longo de um período desses - seis dias com cinco noites? A conta é fácil. Muito simples. Vou fazê-la. Por que não? Com transparência. Com despudor... Afinal, deve ser assim. 

Um turista que vem a um evento como esse gasta por dia, em média, cerca de R$ 400,00. Se recebermos 5.000 visitantes - número modesto - temos aí um faturamento de R$ 2 milhões no dia. Ou seja: R$ 10 milhões, no período. 

Garanhuns pode perder esses reais? A sua economia pode dispensar esses valores, sobretudo quando sabemos que todos são beneficiados com alguns deles, como disse: do flanelinha ao empresário -  micro, pequeno e grande? E, não se pode esquecer do município - recolhem-se impostos e taxas; também do estado - recolhem-se impostos de circulação de mercadoria; igualmente da União - recolhem-se uma infinidade de tributos federais. Penso que não podemos abrir mão disso, nem na crise, nem fora dela. 

Ano passado, saí de minha cidade e fui passar o Carnaval em Recife. Na volta, na quarta-feira de cinzas, passava eu por Gravatá e ouvia pelo rádio uma entrevista do prefeito daquela cidade que falava de sua alegria com o Jazz e o Blues que promovera. E ele dizia: “Faturamos cerca de R$ 10 milhões”. Eu disse a Emília, que viajava comigo: “O número não é esse”. Emília, que vinha ao meu lado, me perguntou: “Você estima em quanto, Givaldo?” Eu respondi: “Eles faturaram muito mais. Aqui, tudo é mais caro. O dobro. De repente, o triplo. Esse faturamento não pode ter sido inferior a R$ 30 milhões.” 

Em Gravatá não tinha menos de 10.000 turistas no Jazz e no Blues do ano passado - 2016. Lá, se gastou, por dia, em média, R$ 600,00. Ou seja: aquele faturamento/dia foi da ordem de R$ 6 milhões, totalizando cerca de R$ 30 milhões no período. 

A contar pelas diárias dos hotéis... Vamos a um, de lá, equivalente a um dos nossos, daqui: R$ 334,70 por pessoa/dia, com pensão completa, lá. Em nossa cidade: R$ 198,44 por pessoa/dia, também com pensão completa. Veja a diferença. Só em hotel. E, no mais? Restaurantes, bares, compras... E tudo o que o turista gosta de consumir nessas ocasiões. 

Para esse ano de 2017, temos lá em Gravatá diárias por pessoa ao preço de R$ 380,40. Em nossa cidade, R$ 218,50. Grande a diferença, não é verdade?


Aí, é de se perguntar: O que eles têm lá, que nós não temos aqui? Clima? Água? Beleza? Geografia...? Não! Nenhuma dessas riquezas. Eles têm, sim: união, ousadia e disposição ao trabalho. Trabalho organizado e permanente. Calendários turísticos às mãos, sempre melhorados e ampliados. E, sobretudo, anunciados com a antecedência recomendada, a fim de que o turista, na verdade para quem fora montado, possa melhor se programar. Melhor se organizar. 

É disso de que precisamos em nossa cidade: da união do público com o privado para fazermos um grande trabalho pela cidade. Para que possamos “vender” melhor os nossos produtos. “Vender”, em uma palavra: Garanhuns. “O melhor produto turístico de Pernambuco” - dissera-me sobre nossa cidade, outro dia, um amigo que trabalha na FUNDARPE e que é conhecedor do trade turístico do estado. E esse amigo, diga-se de passagem, não é da “Cidade de Simôa”, da “Cidade Poesia” de Garanhuns. 

Quando penso sobre essas questões de minha cidade, me vem a lembrança uma passagem de Machado de Assis: “As ruas podem ser ou estreitas, para se alargarem daqui a anos, ou já largas, para evitar fadigas ulteriores.”  

Somos, com orgulho, a “Cidade do Clima Maravilhoso”, a “Cidade das Sete Colinas”, a “Cidade das Flores”, a “Cidade onde o Nordeste Garoa”, a “Cidade dos Festivais”... E nenhuma outra cidade há de subtrair os nossos títulos. 

Ah! Não! Não, mesmo! Donde a conclusão: se lá atrás fizemos nossas ruas largas. Se lá atrás montamos festivais que ao longo dos anos deram certo, por que os encerrarmos agora? Sobretudo, sem se ouvir os diversos segmentos, responsáveis pela economia da cidade, e pelo seu desenvolvimento. 

Que enfrentemos, portanto, as “fadigas ulteriores” na tentativa de revertermos esses nossos equívocos, produzidos, de certo, por nossos açodamentos. E que, hoje, tanto mal fazem à gente de Garanhuns.  

Mas vamos enfrentar as fadigas, porque esse é o preço que temos de pagar.