Às vezes, penso: “tenho saudade desta tribuna”. Aqui, estive durante quatro anos, com tantos. Daqui, vejo ainda alguns: Audálio Ramos Machado Filho, Zaqueu Naum Lins e Daniel da Silva. Mas, daqui, vem-me, também, a lembrança de João Inocêncio Filho, Aldemiro de Medeiros Aquino, Edson Rodrigues Pereira, Gedécio Barros de Almeida, José Carlos Santos, José Carlos Rocha Santos, José Augusto Moura Acioli...
Como foram bons aqueles tempos, que não voltam mais. Daqui, desta Casa, procurávamos cada um ao seu estilo, lutar pelos sonhos da cidade e de seus cidadãos. E penso, hoje, que valeu a pena ter passado por esta Casa.
Esta Casa sempre foi muito generosa comigo. Por duas vezes, presta-me uma homenagem. A primeira, data de 31 de maio de 1989. Eu, recolhido em minha residência, de repente recebo a visita de alguns amigos diletos, vereadores de minha cidade, à época. E a memória me traz os nomes de Paulo Francisco Gomes, Armando Domingos de Melo, Audálio Ramos Machado, Antônio Ferreira Duarte, José Ataíde Acioli Filho, Joaci Laurindo de Souza... Foram me comunicar que a Câmara Municipal de Garanhuns havia aprovado um “Projeto de Resolução”, que me conferia o honroso título de “Cidadão de Garanhuns”.
Disse, na ocasião, e relembro hoje: “Estou surpreso”. É que, de muito, não me achava de outra cidade, já que tudo em minha vida ocorrera, aqui, nas terras de Simôa.
Com efeito, ainda nos braços de minha mãe, chegara à Garanhuns, da cidade vizinha de Correntes para, aqui, residir até os dias de hoje. Com efeito, fui batizado na Igreja de São Sebastião. Lá, na Boa Vista, pertinho de onde morávamos, na Praça Dom Pedro II. Com efeito, minhas primeiras letras conheci na Escola de Dona Dulcina Galvão, ali, na Avenida Santo Antônio, hoje, “Shopping Center Brasil”. Com efeito, fiz o então curso primário na Escola de Dona Geraldina Miranda. Ali, na Rua Doutor José Mariano, antiga Rua do Recife. Por derradeiro, os cursos ginasial e clássico, cursei-os no Colégio Diocesano, ali, na lendária Praça da Bandeira.

Ah! Que bom seria se esse fosse o corolário do que, hoje, vivenciamos para sairmos, todos, desse estado em que nos encontramos. Sim, porque este é muito ruim para todos nós. Sobretudo e, principalmente, pela iminência da desconstrução da nossa democracia. Da nossa jovem democracia. Que ainda a construímos, com muita luta, com muito esforço, com muito sacrifício. Inclusive, de vidas de inúmeros compatriotas.
O político precisa ter equilíbrio emocional para enfrentar os seus dias a dia. Ele tem que ter a consciência de que, para o exercício de suas funções, precisa estar muito mais para um bom magistrado, sempre à procura do equilíbrio e da justiça, na busca permanente da felicidade e da satisfação da sua comuna. Ele tem que ter humildade. Esta, carregada da certeza de que, pelo menos em um particular, cada ser humano é melhor... Sim, é melhor do que o outro.
O político “não é nenhum iluminado. Ele é uma pessoa comum, igual a todas as outras, com virtudes e defeitos”, disse-nos, certa vez, um Companheiro de Leonismo, Divaldo Suruagy, em uma de suas memoráveis e maravilhosas crônicas. E arrematava: “... importante é que seja honesto, trabalhador, capaz, paciente, prestativo, atencioso, e, principalmente, que tenha espírito público, isto é, coloque os interesses da coletividade acima das solicitações pessoais.”
A atividade política exige, como nenhuma outra, muita vocação. Vocação, que eu diria, sacerdotal.
Algumas pessoas chegam até a conquistar mandatos eletivos. E exercem com inteligência as suas funções. Mas, na natureza dessas pessoas, não está intrínseca a natureza do político. Este, como referido, é dotado de atributos que lhe marcam: tolerância, paciência, atenção... Atributos que são excludentes, na sua falta, à atividade. Nela, na natureza do político, reside a diferença, a grande diferença, do simples mandatário, que, por dever, cumpre as tarefas que lhe impuseram, por obrigação, para o político, que as cumpre, mas com paixão, por vocação. Ou, como diria Marco Maciel “como uma ação missionária”. Aquele, simplesmente, como um peso em sua vida, uma tarefa a mais de seu dia a dia, correndo para entregar a obra, que lhe fora demandada ou imposta à execução, todavia, sem o menor entusiasmo à sua realização. Este, ao contrário, com satisfação em seu dia a dia.
Confesso que fiquei dias a pensar sobre essa segunda surpresa que me faz esta Casa. Aqui e agora. Surpresa, na expressão da palavra. Daí ter-me indagado do porquê da concessão desse honroso e cobiçado título à minha pessoa.
E eu me dizia nas minhas horas de profundo pensar: mandatário não sou. Certo que fui lá atrás. Mas por pouco tempo - um único mandato. Se bem que a este tenha dedicado todo meu entusiasmo à minha cidade. Se bem que a este tenha prestado, com todas as minhas forças, a minha contribuição à minha cidade. E, delas, tenha levado à ciência da sociedade, de forma sistemática. Sem interrupções. Através de Boletins de meu Gabinete, alcunhados de “Ação Parlamentar”.
Mas... penso que esta Casa se fixou, para a tomada de tão relevante decisão, muito mais no cidadão Givaldo, a partir de sua inserção na nossa sociedade. Muito mais no cidadão Givaldo, a partir de sua intenção com as comunas de nossa cidade. Muito mais por sua dedicação e, até, intimidade com nossa cidade, presentes, sempre comigo, os atributos a que me referi, e essenciais à definição do homem político e, portanto, eventualmente, merecedor da honrosa e simbólica Comenda, que acabo de receber.
Dentro desses pressupostos, desse raciocínio, penso que teria, certamente, decidido esta Casa. Não enxergo outra razão que a levasse a assim decidir. E, ademais, sabendo da nobre missão dos vereadores de minha cidade, fiquei a imaginar as horas de debates à tomada dessa grande decisão.
Sinto que as minhas missões em defesa de minha cidade e com elas o meu apego à sua população devem crescer. E muito! E tudo isso vai me exigir um maior esforço, até para o entusiástico louvor da atenta sociedade garanhuense sobre as decisões, tomadas por esta Casa.
De minha parte, prometo: zelarei e redobrarei meus esforços no sentido de continuar merecedor da confiança de cada um de vocês, que representam a população de Garanhuns.
Recebo, portanto, esta Comenda que leva o nome de um dos mais dedicados vereadores da história desta Casa, a quem conheci - Osvaldo Ferreira da Silva - que aqui esteve durante três mandatos, e que me anima a realçar, aqui e agora, o seu exemplo de mandatário com o tempero de grande político.
Isso posto e glorificado, daqui parto para o meu aconchego. E, de lá da minha alcova, vou agradecer a Deus - como, de resto, já o tenho feito - por me ter conduzido até aqui, sem nunca, em momento algum da minha vida, ter atropelado quem quer que seja ou, pelo menos, ter agido com incorreção e/ou indisposição com quaisquer amigos e amigas, que se ombrearam comigo em caminhadas pela vida afora. Donde me confere a certeza de que, na vida, só construí pontes. Nunca muros. Na vida, só construí amizades. Na vida, não conheci nem sei do sentido de inimizades. E, aquelas, com doses fortes de honestidade, franqueza, presteza... E muita lealdade, graças ao bom Deus.
Mas, entrementes, esta Casa ainda houve de prestar outra homenagem a outro membro de minha família. Esta, a meu irmão, que, como eu, também foi vereador em nossa cidade, junto a homens que fizeram história em Garanhuns - Aluísio Souto Pinto, Amílcar da Mota Valença, Antônio Sarmento de Pontes, Elias da Silva Barros, João Bezerra Sobrinho, José Augusto Pinto, José Cardoso da Silva, Luiz Pereira Junior, Pedro de Souza Lima, Raimundo Atanásio de Moraes, Petrônio Fernandes da Silva e Uzzae Canuto.
E, daqui, eu me refiro ao espaço dos ex-vereadores de Garanhuns, que leva seu nome: Geraldo de Freitas Calado, numa iniciativa do Vereador Gerson José de Carvalho Souza Filho, referendada pela unanimidade deste Augusto Plenário.
De Geraldo, meu irmão, guardo suas palavras: “Teu dever é lutar pelo direito, mas no dia em que encontrares o direito em conflito com a justiça, não hesites em lutar pela justiça.”
Por fim, quero agradecer a todos pela homenagem que me prestam, neste dia. A todos os representantes da gente boa de Garanhuns e, de forma muito especial, ao Vereador Daniel, pela iniciativa que terminou contando com o apoio e os aplausos desta Casa.
Certamente, vocês marcam minha vida. A minha e de meus familiares - minha esposa, Emília, meus filhos e meus netos. E a todos os meus das famílias - Calado, Freitas e Valença, a todos meus amigos e amigas da nossa cidade.
Sinto, por fim, neste instante, ecoarem nos meus ouvidos os versos de Cecília Meireles: “Basta-me um pequeno gesto / Feito de longe e de leve / Para que venhas comigo / E eu para sempre te leve...”
O gesto de vocês, no entanto, foi grande. Enorme! Gigante! E dele jamais esquecerei.
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