Dia marcado para nosso regresso ao Recife, com decolagem prevista às 15 horas. Dia, portanto, de refazer as malas e começar a pensar na realidade que nos espera, em horas.
Só com esta manhã de segunda-feira, manhã, inclusive que, já, já, se exaure, dando lugar ao começo de tarde, nada mais a fazer em São Paulo, além de ultimar nossa saída do hotel, e partirmos.
Viajar é sempre bom. Muito bom! Também penso assim, como a grande maioria dos amigos e amigas com quem converso. Na minha atividade profissional, todavia, viajar tem sido cada vez mais difícil, até pela minha natureza de querer estar vendo e estar à frente de tudo nos meus dias a dia. E eu teria inúmeras razões de estar sempre viajando, a começar porque tenho duas filhas e três netinhos que adoro. Além, claro, de dois genros que vivem longe, lá, na América do Norte. Ainda bem que Emília supre com suas constantes presenças as minhas ausências.
Recolho-me um pouco. “Ficou triste, vovô? Quer ficar mais um pouco?”, perguntou-me meu netinho. “Não, Gui. Vovô não pode. Nós não podemos. Você, porque perde aula desde quinta-feira; vovô, porque tem tarefa a cumprir em Garanhuns e sua avó, porque está morrendo de saudade de casa. Afinal, faz um mês que ela está fora, viajando com suas tias”, respondi-o. “E esses papéis, vovô?”, pergunta-me. “São minhas anotações, Gui.” E aqui eu vejo José Lins do Rego dizer que “Viajar é muito bom, mas não viajar não é morrer.” Uma vez, Oliveira Lima, que era homem de muitas viagens, dizia que se fôssemos tomar o valor dos homens pelas viagens, teríamos que chegar à conclusão de considerar os grumetes como homens finos, e um Sócrates, que nunca saiu de sua cidade, um botocudo. “Vou explicar, Gui. Você ainda não tem obrigação de saber o que são ‘grumetes’ nem ‘botocudos’. ‘Grumete’ seria o que se poderia chamar de ‘marinheiro de primeira viagem’. Já ‘botocudo’ seria o que se poderia chamar de um ‘sujeito pouco civilizado’.”
“Mas vovô viaja muito. Estivemos, não faz um ano, em Brasília. Depois, passamos uma semana no Rio. Estivemos aqui em São Paulo, meses atrás. Estamos aqui de novo.” No que eu disse: “Certo, Gui. Certo! Mas vá dizer isso a sua avó.”
“Agora, de uma coisa estou certo, Gui: pelo menos no que diz respeito a viajar, ganho de Sócrates. Entendeu Gui?”. “Mas claro vovô!”, disse-me. “Agora deixa eu te contar: nessa história de viagens, quem estava certo mesmo era Montaigne quando dizia em seus Ensaios que ‘Viajar é um exercício proveitoso. Nela, a alma se exercita.’ E a minha sinto que tem se exercitado muito bem. Sobretudo por sua companhia.” Ele, de pronto: “Agora o Senhor pegou pesado, vô!”
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