Perguntaram-me sobre o que estaria ocorrendo com a Academia de Letras de Garanhuns, uma vez que correm notícias na cidade que teria havido reformas de seus estatutos sem a devida consulta aos seus quadros. Que teriam sido afastados e desprestigiados alguns acadêmicos históricos, com propósitos inconfessáveis. Enfim, que estaria ocorrendo “uma série de irregularidades” naquela Casa de Cultura. Que tem tudo para ser uma das referências maiores da nossa cidade. E que já o é.
Disse que não estava sabendo nada de oficial a respeito. E não estava. Mas que iria apurar. Que custava acreditar em qualquer daquelas notícias, por entender absurdas, mas que julgava saídas de mentes pouco desejosas de verem o crescimento de Garanhuns. Notadamente, através desse viés mágico e único que é a cultura de sua gente. Mas, dizia na época, que iria me inteirar para poder conferir minha posição mais embasada a respeito.
Não quis tratar desse assunto de forma pública pela sua delicadeza. Sobretudo, para preservar a imagem da Academia e de seus acadêmicos. Da Academia e de seus patronos. Da Academia e de sua história. Que vem de longe. Vem de 1978. Do centenário da nossa cidade. Com Rilton Rodrigues da Silva, Humberto Alves de Moraes, Antônio Gonçalves Dias, Aurélio Muniz Freire, João Calado Borba... Vem de mais longe ainda. Vem da década de 1950. Com Geraldo de Freitas Calado, Erasmo Bernardino Vilela, Ronaldo Souto Mayor... Quando criaram o Grêmio Cultural Ruber van der Linden... Mais tarde, a nossa Academia de Letras de Garanhuns. Fundada e instalada por aquelas personagens, na presença, dentre outras, do Cônsul da Costa Rica - José de Abreu Santos, do Bispo da Diocese de Garanhuns - Dom Tiago Postma, Ivaldo Rodrigues Dourado e tantos e tantos outros.
Foi linda. Muito linda a solenidade de instalação da Academia de Letras de Garanhuns, naquela noite fria de 04 de fevereiro de 1978. Ali, na Rua XV de Novembro, 287 - eterna sede da cultura garanhuense. Por isso ouso dizer que a Academia de Letras de Garanhuns deve ser tratada com respeito ao seu passado. Passado que projeta um grande futuro para nossa cultura e para nossa cidade.
Outra época, li em João Ribeiro o seguinte: “Se a Academia não presta, então também o Brasil não presta.” Penso que João Ribeiro foi infeliz, porque tanto a Academia de Letras do Brasil presta como o Brasil também presta. Tanto que sobrevive, a nossa ABL, há décadas. E sobreviverá a séculos. Quiçá milênios.
Igualmente, penso com relação à nossa Academia e à nossa cidade. Que só nos dão orgulho. Sobretudo, pelo que dizem delas, lá fora. Da nossa Academia. Da nossa cidade: “Uma cidade que tem uma Academia de Letras é uma cidade diferente”.
Ah! Como ouço dizerem! Ah! E como me orgulho disso! “Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido”, disse, um dia, o poeta Fernando Pessoa. Quem sabe para que pudéssemos, agora, repetir suas palavras, pensando na nossa Academia de Letras de Garanhuns.

Não posso, portanto, estar feliz com as notícias que hoje me chegam. Agora, pela imprensa. E que me dão conta daquilo que me falavam há meses. Com um agravante. Tudo já corre na Justiça. Nos Tribunais.

Não! Não posso estar feliz! Quando ainda há pouco autorizei a impressão da 4ª Edição de minhas linhas “Padre Adelmar e a Academia de Letras de Garanhuns”. Que fora apresentado naquela “Bela Noite de Academia”. Ela, ocupada por seus acadêmicos. Ela, invadida por acadêmicos de Recife e de Maceió, aqui aportados para prestigiá-la. Ela, tomada pela sociedade de Garanhuns. Orgulhosa pelo momento que vivia a sua cidade. Alegre! Feliz! E o seu presidente a dizer, com voz macia, modulada, magnetizante: “Sofri também, confesso. No meu canto, sentado, vertia lágrimas. A emoção presidiu-me... À Academia compete, entretanto, engrandecer e imortalizar. Givaldo Calado de Freitas tem essa missão, como acadêmico... Compete a todos ler e guardar. Direta ou indiretamente, como se fossem todos da Academia. E que amem esta terra e que reconheçam seus brios. Guardem-no.”

Depois de tanto relutar, eis-me imortal. No que pese meu estado de espírito. Que penso correto aos imortais. Hoje, sou imortal da única, para mim. Da Academia de Letras de Garanhuns. E tudo por conta daquela noite fria de Garanhuns, quando Garanhuns se reencontrou, aos poucos, com Garanhuns, no aguardo de suas madrugadas para ser mais Garanhuns ainda. Com seu frio úmido e medicinal.
A Academia, no entanto, tem que voltar às suas origens. E vai voltar. Esse é o sentimento. Por Garanhuns. Que não a quer perder. Que não admite perdê-la. Porque ela, hoje, mais do que nunca, é a grande referência cultural da nossa cidade. Uma grande e importante referência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário