sábado, 19 de agosto de 2017

DIA TRISTE (15.11.2016) (VOLUME II)

Acordei com dificuldade hoje. “Que indisposição me toma! Que vontade de ficar nesta caminha gostosa até... Bem... Até eu conseguir abrir o outro olho e recuperar minha disposição. Eu pareço que não sou eu!”, dizia-me. “Acaba com isso, Givaldo. Hoje é feriado. Hoje, 15 de novembro. Não te diz nada? Nada? Nadinha? Não gosto desse dia. Para mim, dia da ingratidão. Da covardia. Da traição. E, dessas, não gosto. Detesto mesmo.”, cravava minha mente. 

Meu Deus, estou delirando. Mas, por quê? Por que será?

Acordo. Percebo que ainda flui a madrugada. Sinto que só um dos meus olhos está aberto. Já, já, verei o nascer do sol pela janela entreaberta, querendo assustar e afugentar minha indisposição. O outro parece pedir mais um pouco de repouso. Até por minhas compulsivas e vorazes leituras, noite adentro. Só um? Só um deles? Na verdade, os dois. Ouço ruídos e cânticos que vêm da rua. De repente, barulho. Barulho de carro de som. “A campanha não já terminou? Os votos não já foram apurados? Já não se sabe quem foram os eleitos? Estes não já festejaram suas vitórias? Por que esse barulho? Ensurdecedor barulho... Por que esses cânticos? Por quê?”, fico a perguntar. Sinto, todavia, alguém responder: “É a procissão que vem lá da Boa Vista, do Magano... Que se encontrou na Matriz de Santo Antônio e, em seguida, peregrina em direção ao Santuário da Mãe Rainha - Três Vezes Admirável. E você, Givaldo, prometeu que lá iria. Portanto, levanta, sacode a poeira... E vamos à peregrinação!”, sussurram-me no meu ouvido. “Mas claro! Mas claro! Agora me lembro. Tenho que ir a procissão”, digo-me, em atenção aos sussurros.  

Levanto-me com a ideia fixa de que tenho que partir à procissão e, depois, à luta do dia a dia. No que pese os delírios no transcorrer da madrugada. 

Ingresso na procissão. Esqueço que o trabalho me chama. Mas hoje, 15 de novembro, é feriado. E feriado nacional. Ah! Fixo-me só na procissão. Nos seus cânticos, e, como todos, começo a cantar. Digo-me: “Procissão, sim. Feriado, não. Deles não gosto. Muito menos desse, que pegou carona.” 

Na procissão, vejo que as ruas ainda estão cobertas de névoas como amanheceram. E, por cima, cinzentas e feias. Mas, no entanto, tudo bonito, lindo e belo. Afinal, estamos em Garanhuns. 
Lembro que já, já, é dezembro. E que minha cidade já vive a beleza do Natal Luz 2016. Que este ano já começou em 11 de novembro e vai até 06 de janeiro de 2017. Será que, por isso, estamos percorrendo as ruas e avenidas da cidade para receber as bençãos da Mãe Rainha, pergunto-me.    

Penso, peregrinando: “Hoje, 15 de novembro. Dia, ainda hoje, triste para mim e para milhões de brasileiros. Triste pelo que fizeram naquele fatídico 15 de novembro de 1889. Que, lá na frente, resolveram consagrar na carona de outro dia - 21 de abril de 1789, este, sim, grande dia. Um bonito dia. Em louvação a um ideário. Por que, não? Ideário legítimo. Puro. Até ingênuo. Mas com substância. Com razão de ser. Sobretudo quando sabemos que nosso estado corrupto nos leva 2/5 do que produzimos e, lá, no longínquo 21 de abril de 1789, levavam 1/5. 

Sempre digo aos meus botões: 15 de novembro - dia do golpe. Da injustiça, perpetrada contra Dom Pedro II, um grande brasileiro

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