Ao tempo do Brasil Colônia, pagávamos à Coroa Portuguesa um alto tributo. Um absurdo! 20% de tudo que produzíamos, sobretudo em ouro, daqui saíam para Portugal. E essa cobrança era feita de forma impositiva e implacável. Correspondia a 1/5 de tudo o que se produzia no Brasil. Ocorre que com a queda progressiva da produção, e a consequente queda de arrecadação de tributos, a Coroa quis compensar aquela baixa em suas receitas, daí a cobrança das cem arrobas de ouro anuais que, quando não satisfeita pela população, dela retirava seus pertences para fazer face ao pagamento não efetuado.
A ganância da Coroa fê-la criar um novo imposto: a derrama. O que propiciou que Minas, inspirada pelos ideais de igualdade e liberdade - bandeiras do pensamento iluminista, que chegavam às nossas terras, e já impregnados na Europa - viesse a se insurgir contra a cobrança daquele odiento imposto, dando-se início então ao que veio a se chamar, pouco depois, de “Inconfidência Mineira”.
Os desenlaces dessa insurreição, todavia, não demoraram. Nela estavam à frente os poetas Cláudio Manoel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga; o padre Carlos Correia de Toledo, o coronel Joaquim Silvério dos Reis, o alferes Joaquim José da Silva Xavier...
Joaquim Silvério dos Reis, no entanto, traindo amigos e companheiros de caminhadas de rebelião iminente, pelo perdão de suas dívidas à Coroa, parte para delação, levando seus então pares à cadeia - alguns. E ao desterro - outros. E à forca, Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes.
Hoje, exatos 225 anos do martírio de Tiradentes. Esse o paralelo que estamos a almejar: naquela época a cobrança era tida como abusiva e absurda, e ela correspondia a 1/5 do que se produzia. Em nossos tempos, essa cobrança chega a 2/5 do que produzimos, e o governo sempre falando em aumentar e aumentar impostos. E o governo sempre falando em criar e criar mais impostos. Para pagar rombos que ele mesmo causou.
É de se dizer que estamos há mais de dois séculos da morte de Tiradentes e ainda precisamos de uma “Inconfidência” em nossos tempos? Não sei. Confesso que não sei. E se soubesse, eu diria que a questão, no entanto, passa pela dificuldade que se teria de encontrar um Tiradentes para protagonizar essa insurreição contra essa abusiva cobrança de impostos pelo governo brasileiro. E, pior, sabedores que somos da malversação dos impostos que pagamos por parte de nossos homens públicos. Eles que deveriam, no mínimo, dar o exemplo.

Nosso dinheiro é confiscado ao dobro do valor do “quinto dos infernos” para sustentar a ganância desses nossos políticos, que nos custa o dobro do que custava da nossa gente à Corte Portuguesa. É legítimo, portanto, pensar e já: Tiradentes foi enforcado e esquartejado porque se insurgiu contra a metade dos impostos que pagamos hoje. E agora? Que vamos fazer, se é que já estamos conscientes dessa verdadeira usurpação? Ou vamos ficar só nos aplausos à coragem dos nossos heróis do passado?
Às vezes sou forçado a pensar: teria sido mesmo só pela cobrança dos impostos que a Coroa levou Tiradentes à forca e tantos outros à prisão e ao desterro naquele fatídico 21 de abril de 1789? Ou as ideias republicanas, já presentes naquela época, não teriam sido a motivação maior?
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